Bordetella pertussis

BORDETELLA PERTUSSIS

 

1-DESCRIÇÃO

 

Bordetella pertussis é conhecida desde o inicio do século passado quando foi descrita por Bordet e Gengou na França. Entretanto, o termo pertussis já fora usado por Sydenham em 1679 para indicar tosse violenta. B. pertussis pertence ao gênero Bodetella juntamente com mais quatro espécies, são patógenos respiratórios humanos e a três outras espécies são patógenos animais, raramente causando infecção no homem. A infecção respiratória causada pela B. pertussis é chamada de coqueluche, mas deve ser notado que as manifestações clínicas da infecção causada pela B.pertussis são muito mais severas.

 

2-FATORES DE VIRULÊNCIA

 

B. pertussis produz uma série de fatores de virulência, alguns sendo bem estabelecidos e outros ainda aguardando comprovação. Didaticamente, os fatores de virulência desta espécie podem ser classificados em adesinas e toxinas.

 

2.1. Adesinas - A mais importante é conhecida como hemaglutinina filamentosa, uma proteína bastante grande que forma estruturas filamentosas na superfície da célula bacteriana e que tem a capacidade de aglutinar hemácias, características estas que originaram a sua designação. Esta adesina medeia a adesão de B. pertussis tanto ao epitélio respiratório como os macrófagos. No epitélio respiratório, as células-alvo são as ciliadas, provavelmente porque são ricas no receptor para a adesina. Este receptor foi identificado como um glicolipídeo sulfatado (sulfatídeo) presente na membrana da célula ciliada; no macrófago, o receptor parece ser CR3.

 

2.2. Toxinas - Três parecem mais importantes: toxina pertússica, adenilciclase e toxina traqueal. Outras toxinas são freqüentemente mencionadas (toxina dermenecrótica e LPS), mas não há evidências de que participem da patogênese da coqueluche, não obstante apresentaram diferentes biológicas experimentalmente.

Toxina pertússica é uma proteína do tipo AB composta de quatro subunidades B (S2, S3, S4 e S5) e uma subunidade A (S1). Ao serem secretada, parte da molécula de Ptx é retida na superfície da célula bacteriana e parte é lançada no meio ambiente. A parte lançada no meio ambiente funciona como toxina à superfície das células do hospedeiro. As subunidades B fixam a toxina à superfície da célula para que a subunidade A possa penetrar e exercer a sua função de ribolisar e inibir a atividade de Gi.

 

2.3. Adenil-ciclase Invasiva ( Acase invasive)

    

Como Ptx, ACase também promove aumento da produção de AMPc pela célula, mas o mecanismo é diferente. Enquanto Ptx inibe Gi (inibytory G protein), ACase age diretamente sobre o ATP, e é ativada pelo cálcio intracelular e pela calmodulina. Acredita-se que Acase esteja envolvida nas fases mais tardias da coqueluche e na gênese de alguns sintomas da doença.

 

2.4. Toxina Traqueal

    

Na realidade, esta toxina é um fragmento do peptidoglicano que é liberado quando a célula sofre lise ou durante o seu crescimento normal. Acredita-se que a toxina traqueal seja responsável pela perda das células ciliadas observada durante a coqueluche.

 

 

3-PATOGÊNESE

 

A patogênese da infecção obedece às seguintes etapas: inalação da bactéria presente em aerossóis, adesão às células ciliadas e aos fagócitos do epitélio respiratório e produção de toxinas. Muitos estudos têm demonstrado que as células epiteliais e os fagócitos são invadidos, mas o significado da invasão não é claro. A maioria das evidências indica que a coqueluche é uma infecção extracelular localizada no epitélio respiratório, sendo que manifestações clinicas sistêmicas são decorrentes da ação de toxinas, lideradas pela toxina pertússica.

Após período de incubação, que varia entre uma e três semanas, começa a fase catarral da coqueluche que dura entre uma e duas semanas. Esta fase caracteriza-se por febre moderada, corrimento nasal e tosse progressiva. Em seguida, vem a fase de tosse paroxística que é característica da coqueluche e que começa a regredir em duas a quatro semanas, com o paciente entrando então na fase de convalescença. Esta fase dura de uma a três semanas e caracteriza-se por declínio progressivo da tosse. No pico da fase de tosse paroxística, o paciente geralmente apresenta intensa linfocitose. As complicações mais séries são broncopneumonia e encefalopatia que, freqüentemente, se manifesta por convulsões.

 

4-EPIDEMIOLOGIA

 

A coqueluche tem distribuição universal, predominando nos paises subdesenvolvidos onde a cobertura vacinal ainda não alcançou níveis satisfatórios. A doença é tipicamente endêmica, mas surtos epidêmicos podem ocorrerem, sobretudo em comunidades fechadas como orfanatos e creches. Mais de 90% dos casos ocorre em crianças com menos de dez anos de idade, 50% destes casos incidem no primeiro ano de vida, e crianças do sexo feminino são mais susceptíveis à infecção, mas as razoes para isto não são conhecidas.

A coqueluche é uma das doenças mais contagiosas. A bactéria é normalmente transmitida por aerossóis provenientes dos doentes, principalmente na fase catarral da infecção. Portadores assintomáticos não são transmissores, uma vez que não são fontes de aerossóis. A bactéria não parece ser transmitida através das mãos ou de objetos de uso dos dorais de saúde pública, uso de antibióticos e principalmente vacinação. Crianças não vacinadas ou que não tiveram coqueluche não devem ter contato com pacientes durante as quatro primeiras semanas da doença e devem receber eritromicina durante dez dias depois que entraram em contato com doentes. Duas variedades de vacina têm sido usadas: celular e acelular. A primeira variedade corresponde à bactéria morta, e é um dos componentes da vacina tríplice. A vacina acelular foi desenvolvida mais recentemente, sendo preparada com fatores de virulência de B. pertussis. A maioria destas vacinas contém Ptx e Fha.

 

5-DIAGNÓSTICO

 

Vários métodos de diagnóstico têm sido propostos, mas cada um deles apresenta limitações e assim não dispomos de um método que possa ser considerado ideal. Na maioria das vezes, o diagnóstico é clínico. A cultura continua sendo o método mais utilizado, mas, além de exigir meios especiais sua eficiência não é satisfatória e os resultados são demasiadamente demorados (freqüentemente mais de uma semana). Outro aspecto que dificulta a cultura é a necessidade de se recorrer a métodos especiais para colher o espécime clínico. Devido às dificuldades inerentes à cultura, outros métodos têm sido utilizados com algumas vantagens. Estão entre estes a imunoflorescência direta (FA) e o PCR realizado a partir do material clínico. Diferentes iniciadores ou primers têm sido usados para PCR. Uma combinação de métodos incluindo testes sorológicos talvez seja a melhor abordagem.   

 

6-TRATAMENTO

 

B. pertussis é sensível a vários antibióticos, mas os melhores resultados terapêuticos têm sido obtidos com eritromicina. Este antibiótico elimina a bactéria das vias respiratórias e influência favoravelmente o curso de infecção. A gamaglobulina antipertússica humana é recomendada por vários autores, particularmente quando existem riscos de complicações.

 

BIBLIOGRAFIA

 

Microbiologia I. Trabulsi, Luiz Rachid. II. Alterthum, Flavio. III. Gompertz, Olga Fischman. IV. Rácz, Maria Lucia.

 

Salyers AA, Whitt DD. Bacterial pathogenesis, 2  ed. ASM Press, Washington DC, 2000.

 

https://servicos.portoalegre.rs.gov.br/

https://www2.portoalegre.rs.gov.br/sms/default.php?p_secao=175