O Clostridium perfringens, a espécie de clostídio mais comumente isolada de amostras clínicas, pode estar associado com uma simples colonização ou pode causar doença grave potencialmete fatal. O C. perfringens é um grande bacilo gram-positivo retangular cujos esporos são raramente observados quer in vivo ou após cultura in vitro. Esse microrganismo é um dos poucos clostrídios imóveis, embora seja característico o seu rápido crescimento nos meios de cultura de laboratório (assemelhando-se ao crescimento dos microrganismos móveis). O microrganismo cresce rapidamente em tecidos e culturas é hemolítico e metabolicamente ativo, características que tornam possível sua rápida identificação no laboratório. A produção de uma ou mais toxinas letais pelo C. perfringens (toxinas µ, b, e e i) é utilizada para subdividir os microrganismos em cinco tipos (A a E).
FATORES DE VIRULÊNCIA
Fatores de Virulência Atividade Biológica
Toxina a Toxina letal; fosfolipase C (lecitinase); aumenta a permeabilidade vascular
Toxina b Toxina letal; atividade necrosante
Toxina e Toxina letal; permease
Toxina i Toxina binária letal; atividade necrosante; adenosina difosfato (ADP)ribosilada
Toxina d Hemolisina
Toxina q Hemosilina termolábil e oxigênio-lábil; citolítica
Toxina k Colagenase; gelatinase; atividade necrosante
Toxina l Protease
Toxina m Hialuronidase
Toxina n Desoxirribonuclease; hemolítica; atividade necrosante
Enterotoxina Altera a permeabilidade da membrana (citotóxica, enterotóxica)
Neuramidade Altera os receptores de gangliosídios de superfície celular; promove trombose capilar
PATOGENICIDADE
O C. perfringens pode causar um espectro de doenças, desde gastrenterite autolimitada até destruição maciça do tecido (por exemplo, mionecrose por clostrídios) associada a uma taxa muito elevada de mortalidade, mesmo em pacientes que recebem intervenção médica precoce. Esse potencial patogênico é atribuído principalmente às 12 toxinas e enzimas produzidas por esse microrganismo. A toxina a, a toxina mais importante produzida por todos os tipos de C. perfringens, é uma lecitinase (fosfolipase C) que provoca lise dos eritrócitos, plaquetas, leucócitos e células endoteliais. Essa toxina aumenta a permeabilidade vascular, resultando em hemólise maciça e sangramento, destruição do tecido (como observado na mionecrose), toxicidade hepática e disfunção do miocárdio (bradicardia, hipotensão). As maiores quantidades da toxina a são produzidas por C. perfringens tipo A.
EPIDEMIOLOGIA
O C. perfringens tipo A é normalmente encontrado no trato intestino de seres humanos e de outros animais e encontrada-se amplamente distribuídos na natureza, particularmente na água e no solo contaminados com fezes. Os esporos são formados sob condições ambientais adversas e podem sobreviver por períodos prolongados. As epas dos tipos B a E não sobrevivem no solo, colonizando preferentemente o trato intestinal de animais e ocasionalmente o dos seres humanos. O C. perfringens tipo A é responsável pela maior parte das infecções humanas, incluindo as infecções dos tecidos moles, intoxicação alimentar e septicemia primária. O C. perfringens tipo C é responsável por uma outra importante infecção nos seres humanos – a enterite necrotizante.
DIAGNÓSTICO
O laboratório desempenha apenas um papel de confirmação no diagnóstico das doenças dos tecidos moles por clostrídios, uma vez que a terapia deve ser iniciada imediatamente nos pacientes afetados. A detecção microscopia de bacilos gram-positivos em amostras clínicas, geralmente na ausência de leucócitos, pode constituir um achado muito útil, já que esses microrganismos apresentam morfologia característica. É também relativamente simples cultivar esses aeróbicos; o C. perfringens pode ser detectado em meios de cultura simples após um período de incubaçãode 1 dia ou menos. Em condições apropriadas, o C. perfrigens pode-se dividir em intervalos compreendidos entre 8 a 10 minutos, e assim o crescimento em meios de ágar ou líquidos de hemocultura pode ser detectado após incubação de poucas horas.
TRATAMENTO
As infecções por C. perfringens como a miosite supurativa e a mionecrose devem ser tatadas agressivamente com debridamento cirúrgico e altas doses de penicilina. O tratamento com oxigênio hiperbárico foi utilizado para controlar essas infecções; entretanto, os resultados são inconclusivos. O anti-soro contra a toxina a também não teve o sucesso esperado, e não está mais sento utilizado.
Apesar dos esforços terapêuticos, o prognóstico dos pacientes com essas doenças é sombrio, com taxa de mortalidade variando de 40% a quase 100%. As doenças localizadas, menos graves, causadas por clostrídeos podem ser tratadas, comêxito, com penicilina, e o desenvolvimento de resistência raramente é registrado para outras espécies que não o C. perfringens. Não é necessária antibioticoterapia para a intoxicação alimentar causada por clostrídios.
A prevenção e o controle das infecções por C. perfringens são difíceis devido a distribuição ubíqua dos microrganismos. A doença requer a introdução do microrganismo em tecidos desvitalizados e a manutenção de um ambiente anaeróbiofavorável ao crescimento bacteriano. Assim, o tratamento cuidadoso do ferimento e o uso criterioso de antibióticosprofiláticos podem contribuir de modo eficiente para a prevenção da maioria das infecções.