Escherichia coli

A Escherichia coli é uma bactéria bacilar Gram-negativa, que é juntamente com o Staphylococcus aureus a mais comum e uma das mais antigas bactérias parasitas do Homem, sendo o seu habitat natural o intestino.

A E.coli assume a forma de um bacilo e pertence à familia das Enterobacteriaceae. São aérobias e anaerobias facultativas. O seu habitat natural é o lúmen intestinal dos seres humanos e de outros animais de sangue quente. Possui múltiplos flagelos dispostos em volta da célula.

A E.coli é um dos poucos seres vivos capaz de produzir todos os componentes de que é feita a partir de compostos básicos e fontes de energia suficientes. Ela é lactase positiva, uma enzima fermentadora de açucares que causa bastante da flatulência de cada pessoa, especialmente após consumo de leite.

Possuem fímbrias ou adesinas que permitem a sua fixação, impedindo o arrastamento pela urina ou diarreia. Muitas produzem exotoxinas. São susceptiveis aos ambientes secos, não resistindo. Possuem lipopolissacarídeo (LPS), como todas as bactérias Gram-negativas. Esta molécula externa activa o sistema imunitário de forma desproporcionada e a vasodilatação excessiva provocada pelas citocinas produzidas pode levar ao choque séptico e morte em casos de septicémia.

A doença é devida à disseminação em outros orgãos das estirpes intestinais normais; ou nos casos de enterite ou meningite neonatal á invasão do lúmen intestinal por estirpes diferentes daquelas normais no individuo.

A presença da E.coli em água ou comida é indicativa de contaminação com fezes humanas (ou mais raramente de outros animais). A quantidade de E.coli em cada mililitro de água é uma das principais medidas usadas no controlo da higiene da água potável municipal, preparados alimentares, e água de piscinas. Esta medida é conhecida oficialmente como indice coliforme da água.

A estirpe de E.coli que existe normalmente nos intestinos de um determinado individuo é bem conhecida e controlada pelo seu sistema imunitário, e raramente causa problemas excepto quando há debilidade do individuo.

A maioria das doenças diarréicas é devida a E.coli vindas de individuos diferentes e portanto de estirpe diferente, não reconhecida pelos linfócitos. As intoxicações alimentares em particular são quase sempre devidas a bactérias de estirpes radicalmente diferentes. É por este motivo que é raro um Europeu, por exemplo apanhar intoxicação alimentar de uma E.coli existente em outro país da Europa, porque mesmo uma E.coli do Reino Unido é suficientemente parecida com uma de Portugal para um português não apanhar intoxicação quando come uma salada mal lavada nesse país. Pela mesma razão um brasileiro não apanha intoxicações alimentares na Argentina frequentemente. No entanto se um português ou inglês for a um país distante como por exemplo ao México, facilmente pode ingerir uma E.coli para a qual não tem defesas e apanhar uma intoxicação alimentar severa numa salada mal lavada que um mexicano na mesa ao lado ingere sem consequências.

O subgrupo ETEC é responsável pela grande maioria das intoxicações alimentares entre turistas e viajantes. Ao todo a E.coli causa 50% destes casos. A prevenção é comer comida totalmente cozinhada, evitar saladas, e beber apenas água mineral ou outras bebidas em recipiente selado.

 

Variantes: Serovars mais importantes

1)    EPEC ("Enteropathogenic E.coli" ; E.coli Enteropatogênica): causam diarreias não sanguinolentas epidémicas em crianças, especialmente em países pobres. Têm um factor de adesão aos enterócitos e produzem enterotoxinas, resultando em destruição dos vilos do intestino delgado, com malabsorção dos nutrientes e consequente diarreia osmótica. Há também febre, nauseas e vómitos.

2)     ETEC ("Enterotoxic E.coli" ; E.coli Enterotoxinogênica): são a causa mais comum de diarreia do turista, sendo ingeridas em grandes numeros em comida mal cozida ou água contaminada com detritos fecais. Resolve com imunidade durante vários meses, logo o turista normalmente só é apanhado uma vez. Infectam principalmente o intestino delgado. Sintomas adicionais são dores violentas abdominais, vómitos, nauseas e febre baixa. Produzem enterotoxinas semelhantes à toxina da cólera, com actividade de adenilato ciclase. O aumento do GMPc (um mediador) dentro do enterócito causa aumento da secreção de electrólitos como cloro e sódio para o lúmen intestinal, seguidos de água por osmose. O resultado é diarreia profusa aquosa, tipo água de arroz, sem sangue. A bacteria tem fímbrias que lhe permite aderir fortemente ao epitélio e não ser completamente arrastada pela diarreia volumosa. A doença é perigosa para crianças pequenas devido à desidratação. Deve lhes ser administrada bastante água (mais é melhor que menos) com um pouco de sal e açucar.

3)     EIEC ("Enteroinvasive E.coli" ; E.coli Enteroinvasiva): são invasivas e destrutivas da mucosa intestinal, causando úlceras e inflamação. O resultado é diarreia aquosa inicial seguida em alguns doentes de diarreia com sangue e muco, semelhante à da disenteria bacteriana.

4)    EHEC ("Enterohemorragic E.coli" ; E.coli Enterohemorragica): causam diarreia aquosa inicial que pode progredir em colite hemorrágica e síndrome hemolítico-urémico (que ocorre em 5% das infecções por EHEC). Têm fímbrias aderentes e produzem uma toxina semelhante à shiga-toxina produzida pela Shigella. Podem provocar anemia, trombocitopenia e insuficiência renal aguda potencialmente perigosa.

5)    DAEC ("Diffusely adherent E.coli"): causa diarreia aquosa em crianças pequenas.

6)    EAEC ("Enteroaggregative E.coli" ; E.coli Enteroagregativa): Têm fímbrias, produzem toxinas semelhantes às da ETEC, resultando em diarreia aquosa ou hemorragica persistente em crianças. As bactérias têm aparÊncia caracteristica, aglutinando-se umas ás outras em "muros de tijolos".

7)    UPEC ("Uropathogenic E.coli"): causa frequentemente infecções do tracto urinário (ITUs) em mulheres jovens. Têm receptores especificos para moléculas da membrana de células do epitélio da pelve renal. Produzem hemolisinas que lisam os eritrócitos.

 

DIAGNÓSTICO

 

É feito pela cultura de amostras dos líquidos infectados e observação microscópica om análises bioquimicas. São usadas técnicas genéticas para identificar genes presentes no genoma da E.coli.

 

Doenças

Esta entre as principais causas de

  • Intoxicação alimentar: a E.coli é uma causa importante de Gastroenterites.
  • Infecção do tracto urinário (ITU): é a mais frequente (cerca de 80% dos casos) causa desta condição em mulheres jovens, podendo complicar em pielonefrite. Resultam da ascensão do organismo do intestino pelo ânus até ao orificio urinário e invasão da uretra, bexiga e ureteres. Frequentemente causadas pelo serovar UPEC. Também conhecida como cistite da lua de mel devido à propensão para aparecer em mulheres sexualmente activas.
  • Colecistite
  • Apendicite
  • Peritonite: se perfurarem a parede intestinas ou do tracto urinário. A mortalidade é alta.
  • Meningite: a maioria dos casos de meningite em neonatos é causada pela E.coli.
  • Infecções de feridas
  • Septicémia: causam 15% dos casos da multiplicação sanguinea frequentemente fatal; contra 20% por Staphylococcus aureus. É uma complicação de estágios avançados não tratados de doença nas vias urinárias ou gastrointestinais. A mortalidade é relativamente alta.

 

TRATAMENTO

 

A E.coli pode ser resistente a um numero crescente de antibióticos, mas uma estirpe raramente é-o a mais de dois ou três fármacos. Antibióticos aconselhados são a aminopenicilina, cefalosporinas, quinolonas, estreptomicina e/ou cotrimazole. A escolha do antibiótico é feita por testes in vitro de susceptibilidade.

Em caso de enterite com diarreia abundante deve ser administrada água com um pouco de sal e açucar, especialmente em climas quentes e em crianças para evitar a desidratação potencialmente perigosa.

 

Bibliografia:

Microbiologia Médica. PATRICK R. MURRAY, PhD; KEN S. ROSENTHAL.PhD; GEOGE S. KOBAYASHI. PhD; MICHAEL A. PFALLER, MD