Mycobacterium Leprae

1. DESCRIÇÃO

 

Os microorganismos são bactérias aeróbicas em forma de bastonetes que não formam esporos. Embora não sejam facilmente coradas, uma corada resiste à descoloração pelo ácido ou álcool sendo, portanto, denominada bacilos “Álcool – Ácido – resistentes tendo como exemplo, o Mycobacterium Leprae.

Os Bacilos Álcool – Ácido - Resistentes Típicos - Isoladamente, em feixes paralelos ou em massas globulares – são encontrados regulamente em raspados da pele ou da mucosa (particularmente do septo nasal) em pacientes com lepra lepromatosa. Os Bacilos são frequentemente encontrados no interior das células endoteliais dos vasos sanguíneos e em células mononucleares. Esses microorganismos ainda não foram cultivados em meios artificiais. Quando os bacilos da hanseníase humana são inoculados no coxim plantar de camundongos verifica-se o desenvolvimento de lesões gramulomatosas locais, com multiplicação limitada de bacilos. Os tatus inoculados desenvolvem tais lepramatosa extensas, e foram encontrados tatus naturalmente infectados com lepra no Texas e no México. M. Leprae do tatu ou do tecido do humano contém uma O-difenol-oxidase peculiar, talvez uma enzima característica dos Bacilos da lepra.

                                                                                                                                                                

2. FATORES DE VIRULÊNCIA E PATOGENICIDADE

 O início da Hanseníase é insidioso. As lesões afetam os tecidos mais frios: pele, nervos superficiais, nariz, laringe, faringe, olhos e testículos. As lesões cutâneas podem ocorrer na forma de lesões maculares pálidas e anestésicas, de 1 – 10 cm de diâmetro; nódulos infiltrados eritematosos, difusos ou distintos, de 1 – 5 cm de diâmetro; ou infiltrações difusa de pele. Os distúrbios neurológicos manifestam-se em forma de infiltrações e espessamento dos nervos, com conseqüente anestesia, neurite, parestesia, úlceras tróficas, reabsorção óssea e encurtamento dos dedos. A desfiguração em decorrência da infiltração da pele e do comprometimento dos nervos nos casos não-tartados pode ser extrema.

A doença é dividida em dois tipos principais: lepromatosa e tuberculóide, com vários estágios intermediários. No tipo lepromatoso, a evolução é progressiva e maligna, com lesões cutâneas nodulares, acometimento simétrico e lento dos nervos, número abundante de bacilos Álcool – ácidos – resistentes nas lesões cutâneas, bacteremia contínua e teste cutâneo negativo com lepromid (extrato de tecido lepromatoso). Na pele lepromatosa a imunidade celular encontra-se acentuadamente deficiente, e a pele é infiltrada pelas células T supressoras do tipo tuberculóide, a evolução é benigna e não-progressiva, com lesões cutâneas musculares, acompanhamento assimétrico e grave dos nervos de início súbito, com pequenos números de bacilos presentes nas lesões e teste cutâneo positivo com lepromina. Na lepra tuberculóide a imunidade celular está intacta e a pela é infiltrada por células T auxiliares. 

 

3 EPIDEMIOLOGIA

 

O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis.

A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase e a mais provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as via aéreas superiores, o trato respiratório. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato direto com a pessoa doente não tratada.

O aparecimento da doença na pessoa infectada pelo bacilo, e suas diferentes manifestações clínicas, dependem dentre outros fatores, da relação parasita / hospedeiro e pode ocorrer após um longo período de incubação, de 2 a 7 anos.

A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, no entanto, raramente ocorre em crianças. Observa-se que crianças, menores de quinze anos, adoecem mais quando há uma maior endemicidade da doença. Há uma incidência maior da doença nos homens do que nas mulheres, na maioria das regiões do mundo.

Além das condições individuais, outros fatores relacionados aos níveis de endemia e às condições socioeconômicas desfavoráveis, assim como condições precárias de vida e de saúde e o elevado número de pessoas convivendo em um mesmo ambiente, influem no risco de adoecer.

Dentre as pessoas que adoecem, algumas apresentam resistência ao bacilo, constituindo os casos Paucibacilares (PB), que abrigam um pequeno número de bacilos no organismo, insuficiente para infectar outras pessoas. Os casos Paucibacilares, portanto, não são considerado importante fontes de transmissão da doença devido à sua baixa carga bacilar. Algumas pessoas podem até curar-se espontaneamente.

Um número menor de pessoas não apresenta resistência ao bacilo, que se multiplica no seu organismo passando a ser eliminado para o meio exterior, podendo infectar outras pessoas. Estas pessoas constituem os casos Multibacilares (MB), que são a fonte de infecção e manutenção da cadeia epidemiológica da doença.

Quando a pessoa doente inicia o tratamento quimioterápico, ela deixa de ser transmissora da doença, pois as primeiras doses da medicação matam os bacilos, torna-os incapazes de infectar outras pessoas.

O diagnostico precoce da Hanseníase e seu tratamento adequado evita a evolução da doença, consequentemente impedem a instalação das físicas por ela provocadas.

 

3 SINAIS E SINTOMAS DERMATOLÓGICOS

 

A hanseníase manifesta-se através de lesões de pele que se apresentam com diminuição ou ausência de sensibilidade.

As lesões mais comuns são:

ž  Manchas pigmentares ou discrômicas: resultam da ausência, diminuição ou aumento de melanina ou depósito de outros pigmentos ou substâncias na pele.

ž  Placa: é lesão que se estende em superfície por vários centímetros. Pode ser individual ou constituir aglomerado de placas.

ž  Infiltração: aumento da espessura e consistência da pele, com menor evidência dos sulcos, limites imprecisos, acompanhando-se, às vezes, de eritema discreto. Pela vitropressão, surge fundo de cor café com leite. Resulta da presença na derme de infiltrado celular, às vezes com edema e vasodilatação.

ž  Tubérculo: designação em desuso, significava pápula ou nódulo que evolui deixando cicatriz.

ž  Nódulo: lesão sólida, circunscrita, elevada ou não, de 1 a 3 cm de tamanho. É processo patológico que localiza-se na epiderme, derme e/ou hipoderme. Pode ser lesão mais palpável que visível (Figura 1).

Essas lesões podem estar localizadas em qualquer região do corpo e podem, também, acometer a mucosa nasal e a cavidade oral. Ocorrem, porém, com maior freqüência, na face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas.

Na hanseníase, as lesões de pele sempre apresentam alterações de sensibilidades. Esta é uma característica que as diferencia das lesões de pele provocadas por outras doenças dermatológicas.

 

A sensibilidade nas lesões pode está diminuída (hipoestesia) ou ausente (anestesia), podendo também haver aumento da sensibilidade (hiperestesia).

 

3.1 Sinais e sintomas Neurológicos

 

A hanseníase manifesta-se, além de lesões na pele, através de lesões nnos nervos periféricos.  

Essas lesões são decorrentes de processos inflamatórios dos nervos periféricos (neurites) e podem ser causados tanto pela ação do bacilo nos nervos como pela reação do organismo ao bacilo ou por ambas. Elas manifestam-se através de:

ž  dor e espessamento dos nervos periféricos;

ž  perda de sensibilidade nas áreas inervadas por esses nervos, principalmente nos olhos, mãos e pés;

ž  perda de força nos músculos inervados por esses nervos principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores.

A neurite, geralmente, manifesta-se através de um processo agudo, acompanhado de dor intensa e edema. No início, não há evidência de comprometimento funcional do nervo, mas freqüentemente, a neurite torna-se crônica e passa a evidenciar esse comprometimento, através da perda da capacidade de suar, causando ressecamento na pele. Há perda de sensibilidade, causando dormência e há perda da força muscular, causando paralisia nas áreas inervadas pelos nervos comprometidos.

 

4 DIAGNÓSTICO CLÍNICO

 

O diagnóstico da hanseníase é realizado através do exame clínico, quando se busca sinais dermato neurológicos da doença.

Um caso de hanseníase é uma pessoa que apresenta uma ou mais de uma das seguintes características e que requer quimioterapia:

ž   Lesão (ões) de pele com alteração de sensibilidade;

ž   Acometimento de nervo (s) com espessamento neural;

ž   Baciloscopia positiva.

O diagnóstico clínico é realizado através do exame físico onde procede-se uma avaliação dermato neurológica, buscando-se identificar sinais clínicos da doença. Antes, porém, de dar-se início ao exame físico, deve-se fazer a anamnese colhendo informações sobre a sua história clínica, ou seja, presença de sinais e sintomas dermato neurológicos característicos da doença e sua história epidemiológica, ou seja, sobre a sua fonte de infecção.

O roteiro de diagnóstico clínico constitui-se das seguintes atividades:

ž  Anamnese - obtenção da história clínica e epidemiológica;

ž  Avaliação dermatológica - identificação de lesões de pele com alteração de sensibilidade;

ž  Avaliação neurológica - identificação de neurites, incapacidades e deformidades;

ž  Diagnóstico dos estados reacionais;

ž  Diagnóstico diferencial;

ž  Classificação do grau de incapacidade física.

4.1 Anamnese

ž   A anamnese deve ser realizada conversando com o paciente sobre os sinais e sintomas da doença e possíveis vínculos epidemiológicos.

ž   A pessoa deve ser ouvida com muita atenção e as dúvidas devem ser prontamente esclarecidas, procurando-se reforçar a relação de confiança existente entre o indivíduo e os profissionais de saúde.

ž   Devem ser registradas cuidadosamente no prontuário todas as informações obtidas, pois elas serão úteis para a conclusão do diagnóstico da doença, para o tratamento e para o acompanhamento do paciente.

ž   É importante que seja detalhada a ocupação da pessoa e suas atividades diárias.

ž   Além das questões rotineiras da anamnese, é fundamental que sejam identificadas as seguintes questões: alguma alteração na sua pele – manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e há quanto tempo eles apareceram, possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do seu corpo; presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés e se usou algum medicamento para tais problemas e qual o resultado.

As pessoas que têm hanseníase, geralmente, queixam-se de manchas dormentes na pele, dores, câimbras, formigamentos, dormências e fraqueza nas mãos e nos pés.

A investigação epidemiológica é muito importante para se descobrir a origem da doença e para o diagnostico precoce de novos casos de hanseníase.

    

4.2. Avaliação Dermatológica

 

A avaliação dermatológica visa identificar as lesões de pele próprias da hanseníase pesquisando a sensibilidade nas mesmas. A alteração de sensibilidade nas lesões de pele é uma característica típica da hanseníase.

Deve ser feita uma inspeção de toda a superfície corporal, no sentido crânio-caudal, seguimento por seguimento, procurando identificar as áreas acometidas por lesões de pele. As áreas onde as lesões ocorrem com maior freqüência são: face, orelhas, nádegas, braços pernas e costas, mas elas podem ocorrer, também, na mucosa nasal.

Devem ser realizadas as seguintes pesquisas de sensibilidade nas lesões de pele térmica, dolorosa, e tátil, que se complementam.

A pesquisa de sensibilidade nas lesões de pele, ou em áreas suspeitas, é um recurso muito importante no diagnóstico da hanseníase e deve ser executada com paciência e precisão.

 

Pesquisa de Sensibilidade

A sensibilidade normal depende da integridade dos troncos nervosos e das finas terminações nervosas que se encontram sob a pele.

Sem ela o paciente perde sua capacidade normal de perceber as sensações de pressão, tato, calor, dor e frio.

Por esse motivo, é importante, para fins de prevenção, poder detectar precocemente essas lesões, já que a perda de sensibilidade, ainda que em pequena área, pode significar agravo para o paciente.

Para realização da pesquisa de sensibilidade, são necessárias algumas considerações:

ž  Explicar ao paciente o exame a ser realizado, certificando-se de sua compreensão para obter maior colaboração.

ž  Concentração do examinador e do paciente.

ž  Demonstrar a técnica, primeiramente, com os olhos do paciente abertos e em pele sã.

ž  Ocluir, então, o campo de visão do paciente.

ž  Selecionar aleatoriamente, a seqüência de pontos a serem testados. Tocar a pele deixando tempo suficiente para o paciente responder. Repetir o teste para confirmar os resultados em cada ponto.

ž  Realizar o teste em área próxima dentro do mesmo território específico, quando na presença de calosidades, cicatrizes ou úlceras.

A pesquisa de sensibilidade térmica nas lesões e nas áreas suspeitas deve ser realizada, sempre que possível, com dois tubos de vidro, um contendo água fria e no outro a aquecida. Deve-se ter o cuidado da temperatura da água não ser muito elevada (acima 45°C), pois neste caso poderá despertar sensação de dor, e não de calor.

Devem ser tocadas a pele sã e a área suspeita com a extremidade dos tubos frio e, alternadamente, solicitadando-se à pessoa que identifique a sensação de frio e de calor(quente). As respostas como menos frio, ou menos quente devem também ser valorizadas nessa pesquisa.

Na impossibilidade de fazer-se o teste com água quente e fria, pode-se utilizar um algodão embebido em éter como procedimento alternativo. Nesse caso, a pele sã e a área suspeita devem ser tocadas, alternadamente, com um pedaço de algodão embebido em éter e, ao paciente, deve-se solicitar que diga quando tem a sensação de frio, sendo comparado os resultados do toque na pele sã e na área suspeita.

Já a pesquisa de sensibilidade tátil nas lesões e nas áreas suspeitas é apenas com uma mecha fina de algodão seco. Da mesma forma, deve ser explicada para a pessoa examinada antes de sua realização.

A pele sã e a área suspeita devem ser tocadas, alternadamente, com a mecha algodão seco e, ao indivíduo examinado, perguntar-se-á se sente o toque. Após comparação dos resultados dos toques, pode-se concluir sobre a alteração de sensibilidade tátil nas lesões ou nas áreas suspeitas.

A pesquisa da sensibilidade protetora é realizada nas lesões, nos membros inferiores e superiores utilizando-se a ponta de uma caneta esferográfica. Essa pesquisa a mais importante para prevenir incapacidades, pois detecta precocemente diminuição ou ausência de sensibilidade protetora do paciente.

 

4.3. Avaliação Neurológica

 

Hanseníase é doença infecciosa, sistêmica, com repercussão importante nos nervos periféricos. O processo inflamatório desses nervos (neurite) é um aspecto importante da hanseníase. Clinicamente, a neurite pode ser silenciosa, sem sinais ou sintomas, ou pode ser evidente, aguda, acompanhada de dor intensa, hipersensibilidade, edema, perda de sensibilidade e paralisia dos músculos.

No estágio inicial da doença, a neurite hansênica não apresenta um dano neural demonstrável, contudo, sem tratamento adequado freqüentemente, a neurite torna-se crônica e evolui, passando a evidenciar o comprometimento dos nervos periféricos: a perda da capacidade de suar (anidrose), a perda de pelos (alopecia), a perda das sensibilidades térmica, dolorosa e tátil, e a paralisia muscular.

Os processos inflamatórios podem ser causados tanto pela ação do bacilo nos nervos, como pela resposta do organismo à presença do bacilo, ou por ambos, provocando lesões neurais, que se não tratadas, podem causar dor e espessamento dos nervos periféricos, alteração de sensibilidade e perda de força nos músculos inervados por esses nervos, principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores, dando origem a incapacidades e deformidades.

Os profissionais de saúde devem ter, sempre, uma atitude de vigilância, em relação a potencial incapacitante da doença, causado pelo comprometimento dos nervos periféricos. Por isso é muito importante que a avaliação neurológica do paciente com hanseníase seja feita com freqüência para que possam, precocemente, ser tomadas as medidas adequadas de prevenção e tratamento de incapacidades físicas.

Assim sendo, a avaliação neurológica deve ser realizada no momento do bico, semestralmente e na alta do tratamento, na ocorrência de neurites e reações ou quando houver suspeita das mesmas, durante ou após o tratamento PQT e sempre que houver queixas.

Os principais nervos periféricos acometidos na hanseníase são os que passam:

ž  pela face - trigêmeo e facial, que podem causar alterações na face, nos olhos e no nariz;

ž  pelos braços - radial, ulnar e mediano, que podem causar alterações nos braços e mãos;

ž  pelas pernas - fibular comum e tibial posterior, que podem causar alterações nas pernas e pés.

 

A identificação das lesões neurológicas é feita através da avaliação neurológica e é constituída pela inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés, palpação dos troncos nervosos periféricos, avaliação da força muscular e avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e membros inferiores.

 

a) Inspeção dos olhos, nariz, membros superiores e inferiores:

A inspeção dos olhos objetiva verificar os sinais e sintomas decorrentes da presença do bacilo e do comprometimento dos nervos que inervam os olhos. Consiste perguntar ao indivíduo se sente ardor, coceira, vista embaçada, ressecamento dos olhos, pálpebras pesadas, lacrimejamento, ou outros sintomas. Deve ser verificado se existem nódulos, infiltrações, secreção, vermelhidão (hiperemia), ausência de sobrancelhas (madarose), cílios invertidos (triquíase), eversão (ectrópio) e desabamento da pálpebra inferior - pálpebra inferior (lagoftalmo), ou opacidade da córnea. Ainda deve ser verificado se há alteração no contorno, tamanho e reação das pupilas, e se as mesmas apresentam-se s ou esbranquiçadas.

Toda pessoa que tem problema no tato(alteração de sensibilidade) vale-se dos olhos para proteger-se, por isso mesmo um paciente de hanseníase deve ter seus olhos cuidadosamente examinados, pois a possibilidade da falta de visa e de visão e tato juntos deixa o paciente extremamente desprotegidos. 

 Já a inspeção do nariz é feita para se verificar os sinais e sintomas decorrentes da presença do bacilo e o comprometimento da mucosa e da cartilagem do nariz. Para tanto pergunta-se se o nariz está entupido e se há sangramento ou ressecamento do mesmo. Deve ser feita uma inspeção do nariz, verificando as condições da pele, da mucosa e septo nasal, bem como se há perfuração do septo nasal, desabamento do nariz ou outros sinais característicos da doença. A mucosa deve ser examinada, verificando se há altera na cor, na umidade (muita secreção ou ressecamento), e se há crostas, atrofias, infiltra ou úlceras na mucosa.

A inspeção dos membros superiores serve para verificar os sinais e sintomas decorrentes do comprometimento dos nervos que inervam as mãos, devendo, para tanto ser questionado sobre a possível diminuição da força, dormência, ou outros sintomas. Inclui, também, a verificação da existência de ressecamento, calosidades, fissuras, ferimentos, cicatrizes, atrofias musculares e reabsorções ósseas (perda de uma ou mais falanges dos dedos, ou parte de uma delas).

A inspeção dos membros inferiores verifica os sinais e sintomas decorrentes comprometimento dos nervos que inervam os pés. Compreende a investigação sobre a pos existência de dor, dormência, perda de força, inchaço, ou outros sintomas. Deve ser verifica-se se há ressecamento, calosidades, fissuras, ferimentos, úlceras, cicatrizes, reabsorções ósseas, atrofias musculares, ou outros sintomas. A observação da marcha (modo de andar) paciente que pode apresentar características de comprometimento neural (pé caído) não deixar de ser feita.

A inspeção do interior dos calcados dos pacientes é fundamental para prevenir incapacidades.

 

b) Palpação dos troncos nervosos periféricos

Este procedimento visa verificar se há espessamento dos nervos que inervam os membros superiores e inferiores, visando prevenir lesões neurais e incapacidades.

O profissional de saúde deve ficar em frente ao paciente que está sendo examinado, posicionando-a de acordo com a descrição específica da técnica de palpação de cada nervo.

O nervo deve ser palpado com as polpas digitais do segundo e terceiro dedos, deslizando-os sobre a superfície óssea, acompanhando o trajeto do nervo, no sentido de cima para baixo. Não se deve esquecer que se os nervos estiverem inflamados poderão estar sensíveis doloridos, merecendo cuidado e pouca força ao serem palpados.

Deve-se verificar em cada nervo palpado:

ž  se há queixa de dor espontânea no trajeto do nervo;

ž  se há queixa de choque ou de dor nos nervos durante a palpação;

ž  se há espessamento do nervo palpado com o nervo correspondente, no lado oposto;

ž  se há alteração na Consistência do nervo: se há endurecimento, amolecimento.

ž  se há alteração na forma do nervo: se existem abscessos e nódulos;

ž  se o nervo apresenta aderências.

 

c) Avaliação da força muscular

A avaliação da força muscular tem o objetivo de verificar se existe comprometimento funcional dos músculos inervados pelos nervos que passam pela face, membros superiores e inferiores. Este comprometimento é evidenciado pela diminuição ou perda da força muscular

 

d) Teste da mobilidade articular das mãos e pés

Objetiva verificar se existem limitações na amplitude dos movimentos das  articulações dos dedos das mãos e dos pés. Essas limitações indicam comprometimento funcional dos músculos inervados pelos nervos que passam pelas mãos e pelos pés, e podem manifestar-se através de garras e de articulações anquilosadas (sem movimento).

Procedimentos:

ž  verifique a mobilidade das articulações das mãos e dos pés através da  movimentação ativa e passiva das mesmas;

ž  peça ao examinado que movimente as articulações dos pés e das mãos;

ž  faça a movimentação passiva das articulações dos pés e das mãos, fixando a articulação proximal a ser examinada, com uma das mãos. Com a outra mão, faça movimentos de extensão e flexão.

 

e) Avaliação da sensibilidade dos olhos, membros superiores e inferiores:

A avaliação de sensibilidade das áreas inervadas pelos nervos periféricos tem objetivo de verificar se existe algum comprometimento dos mesmos - um dos sinais característicos da hanseníase.

Procedimentos:

ž   procure um ambiente tranqüilo e confortável, com o mínimo de interferência externa;

ž   explique à pessoa examinada o teste que será realizado;

ž   demonstre o teste numa área da pele com sensibilidade normal;

ž   peça-lhe que feche os olhos e os mantenham fechados;

ž   teste os pontos com a caneta esferográfica de ponta grossa perpendicularmente à pele;

ž   peça que diga “sim” quando sentir o toque;

ž   volte a cada ponto duas vezes, para certificar-se da resposta;

ž   registre a resposta, “sim” ou “não”, em cada ponto especificamente, de acordo com o seguinte critério:

Sim - sente o toque: tem sensibilidade;

Não - não sente o toque: não tem sensibilidade.

 5. TRATAMENTO

 O tratamento do paciente com hanseníase é fundamental para curá-lo, fechar a fonte de infecção interrompendo a cadeia de transmissão da doença, sendo portanto, estratégico no controle da endemia e para eliminar a hanseníase enquanto problema de saúde pública.

O tratamento integral de um caso de hanseníase compreende o tratamento quimioterápico específico - a poliquimioterapia (PQT), seu acompanhamento, com vista.

A identificar e tratar as possíveis intercorréências e complicações da doença e a prevenção e o tratamento das incapacidades físicas.

Há necessidade de um esforço organizado de toda a rede básica de saúde no sentido de fornecer tratamento quimioterápico a todas as pessoas diagnosticadas com hanseníase.

O indivíduo, após ter o diagnóstico, deve, periodicamente, ser visto pela equipe de saúde para avaliação e para receber a medicação.

Na tomada mensal de medicamentos é feita uma avaliação do paciente para acompanhar a evolução de suas lesões de pele, do seu comprometimento neural, verificando se há presença de neurites ou de estados reacionais. Quando necessárias, são orientadas técnicas de prevenção de incapacidades e deformidades. São dadas orientações sobre os autos cuidados que ela deverá realizar diariamente para evitar as complicações da doença, sendo verificada sua correta realização.

O encaminhamento da pessoa com hanseníase para uma unidade de referência está indicado quando houver necessidade de cuidados especiais – no caso de intercorrências graves ou para correção cirúrgica. Nestes casos, após a realização do procedimento indicado, ela deve retornar para o acompanhamento rotineiro em sua unidade básica.

 

5.1  Tratamento Quimioterápico

 

Não eticamente recomendado tratar o paciente com hanseníase com um só medicamento.

O tratamento específico da pessoa com hanseníase, indicado pelo Ministério da Saúde, poliquimioterapia padronizada pela Organização Mundial de Saúde, conhecida como PQT, devendo ser realizado nas unidades de saúde.

A PQT mata o bacilo tornando-o inviável, evita a evolução da doença, prevenindo as incapacidades e deformidades causadas por ela, levando à cura. O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. Assim sendo, logo no início do tratamento, a transmissão da doença é interrompida, e, sendo realizado de forma completa e correta, garante a cura da doença.

A poliquimioterapia é constituída pelo conjunto dos seguintes medicamentos:

ž  Rifampicina, dapsona e clofazimina, com administração associada.

Essa associação evita a resistência medicamentosa do bacilo que ocorre com freqüência quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da doença.

É administrada através de esquema-padrão, de acordo com a classificação operacional do doente em Pauci ou Multibacilar. A informação sobre a classificação do doente é fundamental para se selecionar o esquema de tratamento adequado ao seu caso.

Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema-padrão é ajustada, de acordo com a sua idade. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos do esquema-padrão, são indicados esquemas alternativos.

A alta por cura e dada apos a administração do número de doses preconizadas pelo esquema terapêutico.

 

5.1.1 Esquema Paucibacilar (PB)-Pacientes com até 5 lesões de pele

Neste caso é utilizada uma combinação da rifampicina e dapsona, acondicionados cartela, no seguinte esquema:

ž  medicação:

- rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada,

- dapsona: uma dose mensal de l00 mg supervisionada e uma dose diária auto - administrada;

ž duração do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina.

ž critério de alta: 6 doses supervisionadas em até 9 meses.

 

5.1.2 Esquema Multibacilar (MB)

Aqui é utilizada uma combinação da pele aqui é utilizada uma combinação de rifampicina, dapsona e de clofazimina acondicionados numa cartela, no seguinte esquema:

ž  medicação:

- rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada;

- clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50 mg auto-administrada;

- dapsona: uma dose mensal de l00 mg supervisionada e uma dose diária auto-administrada;

ž   duração do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina;

ž   critério de alta: 12 doses supervisionadas em até 18 meses.

Casos multibaciliares que iniciam o tratamento com numerosas lesões e/ou extensas áreas de infiltração cutânea poderão apresentar uma regressão mais lenta das lesões de pele. A maioria desses doentes continuará melhorando após a conclusão do tratamento com 12 doses. É possível, no entanto, que alguns desses casos demonstrarem pouca melhora e por isso poderão necessitar de 12 doses adicionais de PQT – MB.

 

5.1.3 Esquemas de tratamento para crianças

Para crianças com hanseníase, as doses de medicamentos dos esquemas paucibacilar e Multibacilar, são ajustadas, de acordo com os seguintes quadros:

 

Paucibacilar

Idade em Anos

Dapsona (DDS)

Auto - administrada

Dapsona (DDS)

Supervisionada

Rifampicina (RFM) Mensal Supervisonada

0 – 5

25 mg

25 mg

150 – 300 mg

6 – 14

50 – 100 mg

50 – 100 mg

300 – 450 mg

 

Multibacilar

Idade em Anos

Dapsona (DDS)

Auto - administrada

Dapsona (DDS)

Supervisionada

Rifampicina (RFM) Mensal Supervisonada

Clofazimina (CFZ)

Auto-administrada

Supervisionada  mensal

0 – 5

25 mg

25 mg

150 – 300 mg

100 mg / semana

100 mg

6 – 14

50 – 100 mg

50 – 100 mg

300 – 450 mg

150 mg / semana

150 – 200m

 

REFERÊNCIA

BUTEL, Janet S, MORSE Stephen A. Microbiologia Médica. Geo. F. Brooks. 11ª Ed. Editora Guanabara: Koogan

 Ministério da Saúde. Guia para o Controle da Hanseníase. Cadernos de Atenção Básica – nº 10, Brasília – DF, 2002.